Que caruru é esse? É da Bahia!

Por EmPauta.net 27/09/2024 - 18:25 hs
Foto: Ilustrativa

A oficialização do Caruru de São Cosme e São Damião como Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia é um marco que celebra uma das tradições mais emblemáticas e queridas do estado. Todos os anos, no dia 27 de setembro, o aroma do caruru invade lares e terreiros em diversos bairros da Bahia, unindo baianos de diferentes crenças em torno de uma prática que transcende o ato de comer. A iguaria, composta por quiabo, azeite de dendê e temperos fortes, é muito mais do que um prato típico; é uma oferenda, um gesto de gratidão e devoção que carrega séculos de história.

A tradição de preparar o caruru no dia de São Cosme e São Damião é antiga e está enraizada na cultura baiana. Para muitas famílias, especialmente as de origem afro-brasileira, fazer o caruru é um ato de fé, uma forma de agradecer por bênçãos alcançadas e de pedir proteção aos santos gêmeos. Mas, além de sua importância religiosa, essa prática é também uma expressão da identidade cultural baiana, que mistura influências africanas, indígenas e europeias em um sincretismo único. 

O caruru, como comida ritualística no candomblé, é oferecido aos Ibejis, divindades gêmeas da religião afro-brasileira que correspondem a São Cosme e São Damião no sincretismo religioso. Durante os rituais, essa comida é abençoada e oferecida às crianças e aos orixás, em um gesto que simboliza o cuidado e a proteção que os gêmeos divinos conferem aos seus devotos. No entanto, o caruru transcende os limites dos terreiros e é compartilhado também por muitos católicos, além de seguidores de outras religiões, em uma bela demonstração de como as crenças se entrelaçam na cultura popular.

Essa tradição tem um lugar especial no coração dos baianos. Anualmente, inúmeras famílias oferecem caruru em seus lares como um agradecimento por uma graça recebida. É comum ver mesas fartas, repletas de quitutes como vatapá, acarajé, abará e, claro, o caruru tradicional ou de sete meninos, sendo compartilhadas com amigos, familiares e até desconhecidos, em um verdadeiro espírito de comunidade. Essa celebração, mais do que um ritual religioso, é um símbolo de generosidade e devoção, onde a fé é expressa pela partilha da comida.

Além de sua função religiosa, o caruru de São Cosme e São Damião reflete a riqueza e a diversidade cultural da Bahia. A presença de elementos africanos na culinária, como o dendê e o quiabo, são testemunhos vivos da diáspora africana e da herança deixada pelos povos escravizados, que conseguiram preservar suas tradições e valores, adaptando-os ao contexto brasileiro. Esse prato, que atravessa gerações, simboliza a resistência cultural e a profunda conexão entre a Bahia e suas raízes africanas.

Agora, com o reconhecimento oficial como Patrimônio Cultural Imaterial, o Caruru de São Cosme e São Damião ganha uma nova dimensão, reforçando seu papel como um elemento fundamental do patrimônio baiano. Esse título fortalece não apenas a preservação da tradição, mas também a valorização do sincretismo religioso que caracteriza a fé de muitos baianos, reafirmando o respeito pelas religiões de matriz africana e sua importância na construção da identidade cultural do estado.

Mais do que uma celebração local, esse reconhecimento engrandece a fé dos devotos de São Cosme e São Damião em todo o Brasil, especialmente na Bahia, onde a devoção aos santos gêmeos está profundamente enraizada. A partir de agora, o Caruru de São Cosme e São Damião não é apenas uma oferenda ou uma refeição comunitária, mas também um símbolo oficial da cultura baiana, que continuará a inspirar e fortalecer a fé de gerações futuras.