Síndrome do Ninho Vazio: Necessidade e sobrevivência
Por Pr. Teobaldo Pedro
Preparámo-nos para muitas coisas, incluindo vida e morte. Preparámo-nos para casar e ter filhos, mas poucos se preparam para o dia em que eles partirão do ninho. E acreditem-me, eles farão isso, tal qual nós o fizemos um dia. Quero refletir com você, um pouco, sobre esse tema tão comum a todos: O Ninho vazio!
Os filhos não nos pertencem. Eles pertencem a Deus, ao mundo, à vida e a eles mesmos com seus sonhos, planos e anseios. E cedo ou tarde irão correr atrás disso em suas vidas. Porem, não é nada fácil para pai e mãe, principalmente os mais apegados, ver sua cria crescer, obter asas e voar por conta própria, com plano de vôo e rotas próprias. A sensação de vazio que se segue é indescritível e quase incompreensível, exceto para quem já a experimentou ou está na iminência de fazê-lo. Mas os pais não são os únicos que sofrem com essa mudança brusca, ainda que planejada, de realidade.
Também, para muitos dos filhos, durante um bom tempo fica uma sensação de vazio existencial, como se faltasse algo neles. E de fato lhes falta: É o ninho do qual não mais fazem parte, mas sentem sua ausência. Ora, tal sensação, embora não seja nem um pouco prazerosa, produz algo de bom na vida de nossa prole. É que diante do desafio de seguir com suas vidas, a partir das experiências vividas no ninho de onde saíram eles começam a organizar o seu próprio ninho. E é exatamente por isso que essa sensação existe. Não para a acomodação, mas sim para o crescimento, o desligamento que fará surgir mais um ninho, inspirado no modelo "ninhal" de onde saiu o "fazedor de novos ninhos."
Nesse momento pequenos conflitos surgem, inevitavelmente, aos poucos. É a tal "adaptação" que vem a ser o "unificação" de duas filosofias de vidas as quais, por mais parecidas que sejam, são em essência e origem, diferentes. E em, se tratando de um casal, cada um teve seu modelo próprio de ninho. Alguns com espinhos, outros com material macio e aconchegante. Mas todos NINHOS!
A verdade é que todos eles, cedo ou tarde, acabam se ajustando e produzindo um ninho novo, diferente, fruto da mistura adaptada das características do ninho de ambos. E é disso que resulta uma família equilibrada e feliz. Porém, se um dos dois se impuser dominantemente, negando ao outro o direito de ter um pouco de si presente na formação do novo ninho, a relação já começará desgastada pela anulação da presença do outro na formação do que chamamos de Família.
Pais que sentem a falta dos filhos que se vão também precisam disso, pois à medida que vislumbram a felicidade deles, passam a ver a si mesmos e se alegram em poder compartilhar experiências de vida familiar, sendo "mentores-conselheiros-supervisores" na elaboração desse novo projeto de ninho familiar. Afinal, a maior alegria de um pai ou mãe é ver que sua cria está feliz e realizada vivendo ao lado da pessoa com quem escolheu dividir a vida e seus sonhos. Aí, depois de um tempo vem os netos e tudo muda. Eles percebem que saíram no lucro, ganharam um bônus e já não se incomodam tanto com um ninho que já não sou dois, mas muitos. E mesmo que não venham filhos, reitero: Ver a felicidade do casal é o que primariamente os consola e realiza como pais.
Assim, na próxima vez em que for reclamar do seu ninho vazio, se recorde de que para que seu ninho fosse formado outro teve que ser esvaziado da sua presença e da pessoa com quem você formou esse ninho que chamas de seu. È a Lei da Vida e não adianta lutar contra ela. Aceite isso com resignação e alegria, mantendo firme e vivos os laços com seus filhos, e possíveis descendentes, todos os dias em seu coração e por toda a vida. Lembre-se de que eles não morreram, apenas seguiram com o ciclo da vida para a perpetuação da espécie, formando um novo ninho familiar. Shalom! .
Teobaldo Pedro de Jesus é pastor, teólogo, psicanalista, palestrantre e educador
Roni Figueiredo - Coluna Social